Passado-Presente-Futuro

Passado
A Segunda Grande Guerra Mundial terminou em 1945. Vivemos, desde então, uma época de relativa paz à escala mundial. Sobretudo na Europa, felizmente não temos tido conflitos globais extremos. Passaram 73 anos. Se exceptuarmos o terrorismo após o 11 de Setembro de 2001 (e os diversos atentados que se seguiram depois), não nos sentimos ameaçados nas nossas vidas de europeus e ocidentais. As diversas guerras e os diversos conflitos noutros pontos do globo parecem-nos distantes e continuamos a nossa vida com um razoável grau de tranquilidade e confiança.
No plano político, temos eleições periódicas e votamos para diversos órgãos de poder. Existem campanhas eleitorais, debates e trocas de opiniões: a democracia parece funcionar em pleno. Temos ainda alguns jornais a que podemos acrescentar diversas estações de rádio, muitos canais televisivos, imensos portais de notícias na internet, blogues, entre muitas outras fontes de informação: a liberdade de expressão parece funcionar em pleno. 
Contudo, esta visão é, já hoje, algo enganadora e a sua continuação pode ser muito perigosa pois, mantendo-se esta ilusão, não conseguiremos encontrar outras formas de resistir e de combater o problema.
E qual é o problema? A democracia está em perigo, a liberdade de expressão está em perigo, a nossa vida de paz, de respeito mútuo e tolerância está em perigo.

Presente
Analisemos apenas alguns sinais óbvios que isoladamente poderiam significar pouco mas que, em conjunto e de forma coordenada, nos fazem pensar. Referirei apenas cinco:
Líderes autoritários e com práticas governativas autoritárias em vários países: Trump, Putin, Erdogan, Salvini,…
Redução da importância da informação de qualidade veiculada por jornalistas profissionais em detrimento de “fake news” espalhadas intencionalmente pelas redes sociais sem controlo nem verificação…
Crescimento eleitoral de forças políticas de extrema-direita radical em diversos países: Brasil, Itália, Hungria, Polónia, Holanda,…
Sucessivo e continuado desrespeito pelos direitos humanos em vários pontos do globo perante a passividade da comunidade internacional ou, no mínimo, sem uma resposta proporcional: desaparecimento (prisão, tortura e/ou assassinato) de jornalistas ou de opositores, genocídio de minorias, rejeição de acolhimento de migrantes, entre muitas outras barbaridades…
Desgaste progressivo do modelo europeu sem que a União Europeia e os seus líderes encontrem novas vias para a reconstrução do ideal europeu de acordo com a sua matriz essencial e original: solidariedade, liberdade, tolerância, desenvolvimento sustentável, paz e um futuro comum.

Futuro
Pensando no futuro, que terá de ser desenhado hoje. Se já não for tarde… Infelizmente, não tenho muitas respostas nem propostas infalíveis. Acredito, contudo, que devemos retomar a essência do que fez de nós, Europeus, o espaço de excelência durante mais de sessenta anos no quadro mundial. Mesmo sabendo que não era uma espaço perfeito. Mas era um espaço que se baseou sempre em princípios de justiça social, de liberdade, de economia competitiva e concorrencial, de igualdade de oportunidades, de acesso à educação e de respeito pelos direitos humanos.
Acredito que, quando tudo o resto falha, devemos começar a reconstrução por algo que nos una a todos. Do meu ponto de vista, trata-se de recomeçar e colocar em prática novos objectivos e novas metas que nos façam voltar a acreditar que (num contexto completamente diferente e com desafios completamente novos em muitas dimensões), como Europeus, a única base possível continuará a ser a que construa uma sociedade de princípios que seja capaz de nos proporcionar a todos uma existência livre, digna, solidária, justa e tolerante.
Exactamente o contrário de (quase) tudo o que assistimos nos últimos tempos… Por isso, temos de agir. E de agir já.
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in Jornal Tornado (15/10/2018)