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"ELES"

A páginas tantas, leio num jornal que «eles aumentaram as tarifas…» e dou por mim a pensar que, de facto, uma das expressões que melhor caracterizam a forma como encaramos a vida pública é esta: «Eles».

Frequentemente, quando nos queixamos do Governo, da Câmara Municipal, da Portugal Telecom ou de qualquer outra entidade, dizemos: «Eles estão a gastar dinheiro a mais…» ou «eles aumentaram os preços…» ou «eles não cumpriram o que prometeram…»

Do meu ponto de vista, esta situação deriva, por um lado, da nossa pouca vontade em identificar um responsável pelo que de mal se faz e, por outro lado, da pouca vontade «deles» em assumir as responsabilidades pelos seus actos e decisões.

Assim, nunca ninguém saberá quem é o responsável. Ninguém será penalizado. Eles não pagam impostos… eles não apertam o cerco aos infractores… eles não cumprem… Mas ninguém faz nada. E daqui decorre a sensação de impunidade que vivemos em diversas áreas. Impunidade e, por vezes, também uma sensação de impotência perante todo um conjunto de injustiças, ilegalidades, irregularidades, desvios, incumprimentos, mentiras.

Em poucos países a sociedade civil terá um papel tão pouco interventor como no nosso. Por exemplo, para quem quer intervir na vida política é quase obrigatória a inscrição num partido político. E dentro de um partido, essa intervenção restringe-se, normalmente, à acção de meia dúzia de dirigentes. Aos eleitores, resta o ritual do voto de quatro em quatro anos.

Mais do que nunca, está na hora de procurarmos novas formas de participação cívica e novos tipos de intervenção social. A sociedade civil tem de funcionar. Senão, «eles» continuarão…

OS DONOS DO TEMPO

Um dos dramas dos dias de hoje é a falta de tempo. Por esse motivo não lemos, não vamos ao teatro, não conversamos com a família e os amigos, entre muitas outras actividades que deixámos de fazer ou que fazemos pouco.

Até aqui nada de novo, são factos conhecidos. O que me surpreendeu, a páginas tantas, foi ler estatísticas recentes que declaram que o «português médio» gasta cerca de quatro horas diárias a ver televisão, isto é, um sexto do seu dia em frente à «caixa» que mudou o mundo. Muito já se tem escrito e dito sobre os efeitos da televisão na sociedade contemporânea e no comportamento humano. No entanto, quer se queira quer não, a culpa não é da televisão. A culpa é nossa.

Não somos capazes de desligar «o» botão. Não acreditam? Experimentem, logo à noite, depois de jantar, desligar o vosso televisor. Que poderá acontecer? Os filhos e o cônjuge suspeitarão, no mínimo, que enlouqueceram ou que o jantar vos provocou uma indigestão cerebral súbita mas grave...

De facto, poucas famílias conseguirão, hoje, desligar o seu televisor e passar o serão a ler, a conversar, a ouvir música, a descansar. Porquê?

Do meu ponto de vista, isto acontece porque nos desabituámos, principalmente e em primeiro lugar, de ser os donos do nosso próprio tempo.

E quando as pessoa, as família, a sociedade já não são donas das suas horas, dos seus minutos e dos seus segundos (numa palavra, da sua Vida), resta-lhes esperar.

LIBERDADE

Quando penso que já passaram 24 anos sobre o 25 de Abril de 1974, interrogo-me frequentemente sobre o que é que, de facto, foi mais importante.

Por muitas voltas que dê, chego sempre a esta conclusão: as liberdades, designadamente a liberdade de expressão e a imprensa livre.

A importância da liberdade conquistada em 25 de Abril de 1974 só pode compreender-se se voltássemos a viver (ou se, pelo menos, formos capazes de imaginar) a sua ausência.

Antes do 25 de Abril, esta crónica iria à Censura para ser analisada e, eventualmente, cortada. Este jornal seria inspeccionado à lupa. Muitas vezes, os artigos e as fotografias seriam recusados.

Antes do 25 de Abril, uma simples reunião era suspeita e um espectáculo era um atentado em potência.

Antes do 25 de Abril a crítica era recebida com ameaças, com a prisão, com violência.

É bom que isto se recorde hoje. Hoje que estamos estão habituados a ser livres e a viver esta nossa liberdade de expressão com tanta naturalidade.

É bom que isto se diga para que não admitamos sequer o renascimento de qualquer forma de restrição da liberdade.

Para mim, a liberdade de expressão e uma imprensa livre são as conquistas mais preciosas que alcançámos com o 25 de Abril. Claro que outros aspectos fundamentais da nossa vida e do nosso país mudaram. Mas nada seria igual sem liberdade. Quanto mais não seja a liberdade de exigir mais mudanças, melhores mudanças.

Por absurdo, imagine-se o que seria o regresso da censura. É difícil imaginar, não é? E, felizmente, seria impossível aceitar. «Só» por isso, o 25 de Abril valeu a pena.

PORTUGAL! (NO FIM DA EXPO/98)

Chegou ao fim a EXPO'98. Pelo calendário, foram apenas 132 dias de festa. Para nós, Portugueses, é um marco na história da segunda metade do nosso século XX.

Um marco que se caracteriza, em primeiro lugar, pela demonstração plena da nossa capacidade de fazer uma exposição com esta dimensão e com esta importância.

Em segundo lugar, um marco porque não só fomos capazes de fazer, como o fizemos bem: a nível da organização, da logística, da arquitectura, da animação cultural, dos espectáculos e da qualidade excepcional dos pavilhões temáticos, por exemplo.

Em terceiro lugar, um marco porque nos sentimos verdadeiramente orgulhosos da obra realizada (apesar das vozes de alguns «velhos do Restelo»). A exposição esteve, de facto, muitos furos acima do que estamos habituados a ver em Portugal.

Em conclusão, um marco porque poderemos falar da época «antes da Expo'98» e «depois da Expo'98». Até agora pensávamos que não sabíamos ou, pior ainda, que não queríamos. A partir de agora, sabemos que somos capazes. Ganhámos uma batalha e ficámos com vontade e orgulho suficientes para ganhar a guerra da modernidade.
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PS: Infelizmente, numa iniciativa em que demonstrámos tanta capacidade e competência, um aspecto falhou rotundamente: a maior parte dos «souvenirs» à venda nas lojas da Expo'98 ostentavam uma etiqueta em que se lia «Made in China». Não foi possível encontrar uma empresa portuguesa capaz de produzir em quantidade e a preços competitivos bonecos, porta-chaves, isqueiros e esferográficas? Parece-me lamentável.