Vergonha

1
O episódio da tentativa de silenciar o deputado André Ventura aparentemente por causa do uso excessivo da palavra “vergonha” é lamentável. Em qualquer contexto mas mais ainda por ser protagonizado pelo Presidente de uma das principais instituições da democracia portuguesa: o parlamento.
Pessoalmente, discordo em absoluto do que este deputado populista de extrema-direita defende e representa. Mas, enquanto cidadão e enquanto deputado eleito ele tem todo o direito de apresentar e defender as suas opiniões. Alguns milhares de portugueses deram-lhe esse poder para o fazer na Assembleia da República (AR).

2
O facto do Presidente da AR não concordar com o que o deputado diz não lhe dá nenhuma legitimidade para o admoestar. E, muito menos, para lhe dizer que palavras pode ou não usar. Como é óbvio, naquele espaço, o deputado não pode insultar ou ser de alguma forma incorrecto com os seus pares ou com outras pessoas. Mas, usar a palavra vergonha algumas (ou, até, muitas) vezes não pode ser um motivo para o repreender ou tentar condicionar. A avaliação da prestação do deputado na AR será feita pelos eleitores no momento certo: as próximas eleições.
Além disso, estas tentativas do Presidente da AR apenas dão óptimos argumentos ao deputado André Ventura para se vitimizar e desencadear até alguma simpatia em potenciais eleitores...

3
Portugal foi um dos últimos países a ter deputados populistas de extrema-direita a serem eleitos para o seu parlamento. Por agora, com uma expressão mínima em número de eleitos. O que urge é combater as suas ideias, desmontar os seus argumentos desmascarar as suas intenções e esclarecer a opinião pública sobre a essência do seu projecto e dos seus objectivos.
Em democracia, tentar calar é a pior opção. A força da democracia está precisamente na liberdade de expressão. De todos e não apenas daqueles que pensam como nós.
__________
in Jornal Tornado (15/01/2020)