OS DONOS DO TEMPO

Um dos dramas dos dias de hoje é a falta de tempo. Por esse motivo não lemos, não vamos ao teatro, não conversamos com a família e os amigos, entre muitas outras actividades que deixámos de fazer ou que fazemos pouco.

Até aqui nada de novo, são factos conhecidos. O que me surpreendeu, a páginas tantas, foi ler estatísticas recentes que declaram que o «português médio» gasta cerca de quatro horas diárias a ver televisão, isto é, um sexto do seu dia em frente à «caixa» que mudou o mundo. Muito já se tem escrito e dito sobre os efeitos da televisão na sociedade contemporânea e no comportamento humano. No entanto, quer se queira quer não, a culpa não é da televisão. A culpa é nossa.

Não somos capazes de desligar «o» botão. Não acreditam? Experimentem, logo à noite, depois de jantar, desligar o vosso televisor. Que poderá acontecer? Os filhos e o cônjuge suspeitarão, no mínimo, que enlouqueceram ou que o jantar vos provocou uma indigestão cerebral súbita mas grave...

De facto, poucas famílias conseguirão, hoje, desligar o seu televisor e passar o serão a ler, a conversar, a ouvir música, a descansar. Porquê?

Do meu ponto de vista, isto acontece porque nos desabituámos, principalmente e em primeiro lugar, de ser os donos do nosso próprio tempo.

E quando as pessoa, as família, a sociedade já não são donas das suas horas, dos seus minutos e dos seus segundos (numa palavra, da sua Vida), resta-lhes esperar.