«Se o homem falhar em conciliar a justiça e a liberdade,
então falha em tudo.»
Albert Camus
1. DESCONFIADOS
Os casos na Justiça sucedem-se em Portugal e são evidentes
vários sinais de desconforto quando se fala da sua aplicação concreta. Ficamos
espantados com arquivamentos inesperados. Lamentamos os prazos excessivos que
os processos demoram até chegarem a tribunal. Ficamos baralhados com sentenças
arcaicas e imorais como algumas que foram tomadas sobre casos de violência
doméstica.
Ambicionamos nunca termos de nos sujeitar aos tortuosos caminhos da
investigação ou da suspeita.
Em síntese, confiamos pouco (ou nada?) na Justiça portuguesa
e no seu trabalho.
E o problema principal é que, sem sermos juristas
especializados, a realidade que surge relatada na comunicação social ou em
situações que vamos conhecendo no nosso dia a dia, apenas confirmam os nossos
receios e as nossas dúvidas.
2. INSATISFEITOS
Numa sociedade livre, queremos que haja justiça. Não só a
justiça administrada pelos tribunais mas uma justiça mais ampla que permita que
todos tenham as mesmas oportunidades em muitos domínios: economia, sociedade,
educação, emprego, saúde ou bem-estar.
3. DECIDIDOS
Neste quadro algo negro e desolador, poderemos ter uma
atitude exigente ou teremos de aceitar resignar que a Justiça não funciona?
Teremos de nos resignar a que este pilar da sociedade seja um pilar em ruínas
(ou, no mínimo, em decadência)? Poderemos lutar de alguma forma para alterar o
miserável estado de coisas a que se chegou? Valerá a pena acreditar que,
enquanto cidadãos, temos uma palavra a dizer?
Na minha humilde opinião, é tempo de não nos resignarmos,
mas de nos indignarmos. É tempo de dizer “basta”!
Se calarmos ou se olharmos para o lado, não podemos depois
dizer que não é connosco, que a culpa é dos outros. Seremos cúmplices. A opção
é nossa, nós podemos decidir de que lado queremos estar e lutar. E estar do
lado da Justiça é, em primeiro lugar, estar do lado da Liberdade.
Fevereiro/2018
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Publicado no Nº 5 da revista “Sem Equívocos”