Dos Poderes

«Só quer a vida cheia quem teve a vida parada 
Só há liberdade a sério quando houver 
A paz, o pão 
habitação
saúde, educação 
Só há liberdade a sério quando houver 
Liberdade de mudar e decidir.»

Sérgio Godinho

1. POLÍTICOS
De que falamos quando falamos de política? Nos nossos dias, tanto em Portugal como no mundo de uma forma geral, não nos ocorrerá nada de muito positivo. Infelizmente, pois o exercício da Política devia ser uma tarefa nobre, executada com rigor, transparência, honra, sensatez, coerência e princípios. 
Isto é algo de muito básico e devia ser o fundamento do exercício do Poder nos seus diversos órgãos, de uma simples Junta de Freguesia à Presidência da República. Mas, como bem sabemos, estamos longe (mesmo muito longe...) deste ideal. 
Temos, naturalmente, excepções mas a verdade é que o afastamento dos detentores de cargos políticos dos cidadãos é uma realidade. E, aqui e ali, surge uma outra forma de engano: o líder populista, que jura ir ser diferente e estar junto do seu Povo. Por seu turno, o povo esse está afastado e descrente pois os mecanismos da sua representação política são limitados (quando muito, um voto nas urnas de 4 em 4 anos...). 

2. RELIGIOSOS
De que falamos quando falamos de religião? Falamos de crença, de fé, de paz, de comunhão de ideais e de busca de uma dimensão existencial muito para além da vida terrena. Mas, infelizmente, temos muitas vezes intolerância e manifestações de fanatismo, de ódio e de violência. A religião, ou as religiões, em vez de promoverem a paz e a concórdia são hoje activadoras de conflitos e de guerras, de atentados e de mortes. Em vez de escolher uma igreja para partilhar uma vida e um ideal, muitos saem desse local para desencadear o mal.
E esta situação parece piorar de dia para dia. Temos, claro, excepções mas nem sempre conseguem mudar a situação e, quem sabe, podem mesmo ser engolidos pela máquina. Podemos dizer que o Papa Francisco é diferente mas, certamente, é insuficiente. 
Infelizmente.

3. CONDICIONADOS
Nestes dias e neste tempo em que vivemos, são muitos os desafios. São imensos os riscos e os perigos. E tudo está a ocorrer num mundo em mudança vertiginosa agudizando a(s) incerteza(s).
A nossa vida, assente em salutares princípios que conhecemos e julgávamos consolidados há mais de 50 anos, está em causa. 
As causas são várias mas, no fundo, estamos perante um forte e multifacetado ataque organizado à democracia, à tolerância, ao Estado Social, ao direito à diferença, à liberdade de expressão e de imprensa. Estamos perante sérias tentativas de restrição de direitos humanos básicos como o direito à saúde, à educação, a um emprego e a uma reforma digna. Estamos perante a tentativa de destruição do nosso modo de vida com a “normalização” das desigualdades, a “banalidade” das violências, a “inevitabilidade” do retrocesso e a “urgência” de se tomarem medidas reguladoras que baixem as expectativas.
Mas tudo isto não passa de uma ilusão que visa, em primeiro lugar, estabelecer que o verdadeiro poder continue a ser o poder económico e o poder dos interesses. E, nesta batalha, os aliados que devíamos ter do nosso lado estão cada vez mais ausentes ou inoperantes.
Podíamos pensar que os nossos legítimos representantes políticos nos defendessem e lutassem pelos nossos interesses. Podíamos rezar e ter fé.
Infelizmente, tudo isso vem demonstrando ser um embuste. Estamos condicionados, somos manietados, somos manipulados e, frequentemente, perdemos poder. Muitas vezes sem sequer termos noção disso mesmo

4. DECIDIDOS
Está na hora de os Cidadãos retomarem, em suas mãos, o poder. Nunca foi, não é e nunca será fácil. Mas, não podemos esquecer: nós temos um poder. O poder de decidir, de agir e de contribuir para a mudança global. 
Podemos entregar o nosso destino nas mãos de outros. Ou podemos decidir e contribuir para a mudança. Podemos começar hoje.
Maio/2018
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Publicado no Nº 6 da revista "Sem Equívocos"